domingo, fevereiro 11, 2007

Reflection

Hora de confrontar o espelho...

Aquele momento por que anseio vorazmente, sendo que tudo faço para reprimir tal voracidade.
Não há uma única célula neste cadáver que seja digna do nome "Eu"...

Vejo-me nu e amarrado, impotente perante o impiedavel tempo que teima em não abrandar, fazendo da minha vontade de melhorar e evoluir, um fumo cada vez mais efémero e disperso.

O vulto à minha frente não faz juz à escultura mental da qual fui o principal autor, sou apenas mais um pedaço de carne em decomposição... é apenas uma questão de tempo até que o odor desencadeie a repulsa...

Amanhã acordarei sozinho, num leito de madeira... num qualquer subsolo agreste e ao mesmo tempo misericordioso.

Porém o tempo é hoje, o agora, o instante que se sucede criando a ilusão de intemporalidade...

... oiço o alarme tocar e percebo que o meu tempo acabou... enquanto buscava a perfeição da minha criação, enquanto fugia do cadáver que me perseguía fui me afastando de mim... abandonei-me a mim próprio. Fui órfão... fui refém... fui aquilo que nunca quis ser...

o alarme toca outra vez como que a insistir que o meu tempo acabou...

houvesse amanhã e talvez eu ousa-se... viver... cortar-me e ver o sangue fluir...
saber que estava vivo...

O alarme irá tocar outra vez, mas já não estará ninguém para o ouvir...



"you dare to sight the blood stain?"

6 Comments:

Blogger Unknown said...

Já tinha saudades de ler estas tuas negras reflexões, Amigo.

Sê bem-vindo de volta!

E não te esqueças... Temos que ir aos copos.

11:22 da manhã  
Blogger Chad said...

Que falar acerca deste post? Ainda bem que estás de volta, a minha inspiração provém por vezes dos teus textos. Escreves muito bem. A tua mente é um poço de palavras das quais necessitam de ver a luz, e cada frase tua, é memoravel. Gosto da maneira como vês as coisas. A forma como as colocas. Directas.
Obrigado bro, por me teres dado o prazer de te conhecer.

12:19 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

O tempo a fluir e a dispersar-se continuamente e haver o íntimo desejo de agarrar todos os fragmentos, identidades de um eu que não se conhece, por vezes.

E o sentir o tempo a fugir-nos por entre os dedos, calejados por ele próprio? Não será tudo uma vaga dissertação sobre coisas que à partida são contáveis, mas que não deixam capacidade de contenção?

É a realidade a passar ao lado, a provocar o convite e a receber um olhar de cansaço.

Gostei muito. *

2:40 da tarde  
Blogger flor said...

belas mensagens parabens

10:41 da manhã  
Blogger SweetSerenity said...

impressionante que tenha de ler os teus textos sempre mais que 2 vezes antes de os comentar. e acabo por comentar sempre muito depois.

Ora bem, desta leitura consegui sentir/encontrar/lembrar-me de frases dos teus outros textos. Como se tudo se condensasse aqui. O que até tem uma certa lógica, visto não escreveres (pelo menos cá) há bastante tempo e agora o teu pensamento poder estar mais maduro, tal como a tua escrita.

E curiosamente também me recordei de alguns textos meus em que abordei o mesmo tema: a incapacidade de sermos o que queremos, de nos sentirmos presos ao que sempre fomos, prisioneiros do vazio, o espaço-tempo que não existem em nós, mas que nos rodeia e nos lança na velhice.

São as imagens da nudez e da impotência que mais sobressaem. O cinzento, o frio... A sombra, imagem fraca de ti mesmo, arquitecto que não tem sucesso porque batalha contra um prazo. Arquitecto que fracassa porque procura demasiado no exterior? Porque fugindo de si, impede a descoberta do que já existe e pode ser melhorado. Tu és a matéria-prima, da qual o projecto idealizado surgirá. A criação que almejas já existe, mas o medo de a descobrir é demasiado para a viver.

"houvesse amanhã e talvez eu ousa-se... viver... cortar-me e ver o sangue fluir...
saber que estava vivo..."

vontades incontroláveis que duram momentos demasiado breves para que se tornem concretizáveis.

Adorei ler-te.

Um beijo*

12:49 da manhã  
Blogger Eduardo said...

Olá, amigo! Deixo-te aqui um excerto meu sobre a mesma reflexão: "tudo flui de uma forma incomensuravelmente implacável".
Abraço

2:33 da tarde  

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