domingo, janeiro 27, 2008

Carne Viva

O desejo de ser único, de ser uno, que me escorre pelo corpo, que se confunde com suor, com lágrimas, com sangue, com sentimentos... é ele que faz de mim presa neste jogo de predadores.


Todos nós somos predadores neste jogo, no entanto há sempre alguém que fura as nossas defesas disposto a despedaçar-nos... eu amo a adrenalina do jogo da mesma forma que me amo a mim mesmo, e há alturas em que amo até as presas...



É indescritível o mórbido prazer de controlar a caçada, de manipular e conquistar, de seduzir e devorar...

Sou selvagem. Tento esconde-lo à sombra do racional e sóbrio, no entanto como que um vampiro há um rugido dentro de mim que faz estremecer todo o meu ser.

Aqui não há moral nem divindades que nos possam valer, não há juízes nem leis, não há impossíveis nem amor, nem ódio. Apenas eu e tu. O tempo dança connosco e tolda-nos a sua percepção. A porta está sempre distante e sempre fechada, e a vontade de a abrir ficou do outro lado. Apenas há espaço para a união e para a consumação de mais uma queimadura na alma.

Essa mesmo, que vive permanentemente em "carne viva", assombrada e torturada, mas nunca, nunca arrependida.

A admiração por vezes arrebata-me, como podem as presas invadir e provocar? Deambular perto de mim com a ingenuidade de uma cria que se sente sempre protegida. E a maior ironia... por mim!

Por vezes há aquelas que mais não são do que belos necrofagos disfarçados, aguardando apenas um suspiro meu, para me arrancarem mais um pedaço deste meu cadáver em constante decomposição. Sei que não me matam, pois isso há muito começou e tem data marcada, no entanto tornam ainda mais selvagem e cruel este mundo em que habito.

Matam todas as fantasias de uma alternativa, como se fossem lobos num banquete. Destruindo qualquer possibilidade ou fuga que eu pudesse sequer equacionar.

Assim sou cada vez mais um vampiro, não de sangue, mas sim de vida. Um verdadeiro adicto de vida, sem controlo nenhum da situação, apenas controlando de forma exímia a arte de quem caça e é caçado.

Serás tu o meu predador ou serei eu o teu? Oxalá não seja apenas mais um. Anseio pelo golpe final em que tudo pára e eu deixo de ser miseravelmente humano.

Até lá sinto a alma em "carne viva".

5 Comments:

Blogger SweetSerenity said...

Tudo se resume ao desejo e ao ego. Essas duas dimensões que fazem de nós tão animais. O desejo ataca, o ego deseja. É um ciclo de força, poder, resistência.

Eu aceito a minha condição de humana, mas não me conformo.

O desejo consome. É irresistível. Há uma vontade enorme de redenção, de prazer. Prazer fácil. Porque é fácil quando se ataca, se consome, se desfruta. Mas não tão fácil quando se lambem as feridas em "carne viva" depois dos ataques.

Sou animal e sou intelectual.

Sou animal e vou à caça e caço e sou caçada. Intelectual quando percebo que as feridas doem mais que o prazer. E novamente animal quando o desejo me invade uma outra vez e anestesia as feridas e me leva em êxtase.

Mas não me conformo. Sou mais. E os pensos rápidos desfazem-se depressa.

"Soube há muito que (...) era pra mim uma droga e que, como todas as drogas, já não era saudável. Mas não conseguia parar. Na verdade nem o queria."

Não sei. Talvez daqui a uns meses. Talvez outras palavras.

4:00 da manhã  
Blogger SweetSerenity said...

passeava eu pela fnac, pela zona dos dvds e eis que encontro este filme:
http://www.cineteka.com/index.php?op=Movie&id=1584

7:37 da tarde  
Blogger A Amada said...

Fantástico...

1:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá,
Você não me conhece, mas quero dizer que achei seu blog sem querer no google enquanto procurava algumas imagens.
Adorei a forma como você escreve, é maravilhosamente sedutora.
Sou brasileira e por isso me senti próxima da sua arte de escrever, pois nós escrevemos no mesmo idioma e isso cria uma ligação entra nações diferentes, porém tão próximas!

Continue a escrever tão bem assim!

Até a próxima!

10:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, Shore...
Estou aqui denovo!

Fico feliz por ter visitado meu blog também!
Estarei voltando aqui sempre que eu puder. Pois encantei-me com a forma que você escreve!

Um beijo,
Ana

10:09 da tarde  

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